Poente
Alberto A. MaiaAntes que o dia caia e se ponha o sol
Deixando no horizonte a vermelhidão do poente
Encerrando movimentos, desfazendo formas
Quero viver cada momento, cada instante fugaz,
Cada minuto repente,
Como se o vislumbre da última curva da estrada
Me desse conta da fragilidade das minhas conquistas,
Leves como bolhas de sabão
Cujas faces espectrais de beleza multicolorida
Dissolvem no ar..
Mas, se tão breve é esta vida, frágil como orvalho
Devo vivê-la tão intensa
Quanto intenso é este desejo latente
Grito sem voz, dor incontida
Sonhos que brotam na aridez e nas pedras
.Como galhos em correnteza arrastados
Como folhas ao vento levados
Vai-se sem rumo nesse dia-após-dia
Curtindo ausências, vivendo apatia
Caminho vazio quando a vida é vazia..
Importa nascer de novo
Romper cadeias, prisões assimiladas
Quebrar o encantamento das palavras
Idéias digeridas, somatizadas
Valores deformados, separação
Feitiço que cerra olhos e alma
Distância... Saudade... Solidão..
Antes que o dia caia e se ponha o Sol
Neste fim de tarde...
Quero ver a luz dos teus olhos, te abraçar
Viver tão perto a presença distante
Que o meu coração mesmo diante
De um simples carinho e pequena alegria
Não sinta a falta, seja completo... seja poesia.
Poente
Pôr-do-sol, Monet, 1883