Poesia e Arte

Poesia e Arte tem como objetivo despertar o prazer pela leitura poética, ao mesmo tempo em que procura estabelecer contatos e afinidades entre duas linguagens capazes de sensibilizar crianças, adolescentes e adultos em seus pensamentos e emoções: a expressão plástica/pintura e a literatura.
Alberto A. Maia

Poesia é arte. E, como toda Arte, exige tonalidade, cor, brilho, criatividade, o artista e o admirador. Mas, acima de tudo, a alma de quem cria e de quem olha e enxerga!”
Ivone Carvalho
.
Os poemas e as imagens estão em domínio público. Os poemas "Percepção" e "Poente" poderão ser copiados e postados em outros sites desde que sejam citados o autor e a fonte.

O amor

Romeu e Julieta, Frank Dicksee, 1884

O amor
Luís Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Lia e Raquel

Raquel e Lia, Dante G. Rossetti, 1855

Lia e Raquel
Luís Vaz de Camões

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pretendia.

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Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

Canção do exílio

Superagüi, obra de William Michaud (1829 – 1902)

Canção do Exílio
Gonçalves Dias


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Meus oito anos

Pintura de Berthe Morisot (1841 – 1895)

Meus Oito Anos
Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
.
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar! .

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
.................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Deus

La Vague, Pierre-Auguste Renoir (1879)

Deus
Casimiro de Abreu

Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca escuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior do que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?!"

Minha mãe a sorrir olhou pr'os céus
E respondeu: - Um ser que nós não vemos
"É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão! Meu filho, é Deus
!"

Simpatia

Junto ao mar, Renoir, 1883
.
Que é simpatia?
Casimiro de Abreu
.
Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor.

Via Láctea

Café Noturno, Van Gogh, 1888

Via Láctea
Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

A velhice

On the Bank of the Seine at Bennecourt, Claude Monet, 1868

A Velhice
Olavo Bilac
.
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

As pombas

Julie Daydreaming, Morisot,. 1894

As pombas
Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada .
Vai-se outra mais ... mais outra, enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

Mar Portuguez

Desenho de autor desconhecido
.
.Mar Portuguez
Fernando Pessoa
(O autor grafou "Portuguez" com Z)
.
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez..
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Mar Portuguez II

The sea at Saintes Maries de la Mer, Van Gogh, 1888

Mar Portuguez II
Fernando Pessoa
(O autor grafou "Portuguez" com Z)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Autopsicografia

A leitura, Jean-Honore Fragonard, 1776

Autopsicografia
Fernando Pessoa
.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Percepção

Nascer do Sol, Claude Monet, 1872

Percepção
Alberto A. Maia

Tu me olhas,
Mas baços estão os teus olhos.
Do espectro filtras das cores, sombrias cores
Não porque são, mas porque vês ;
E dos reflexos – imagem real da minha vida –
Não compartilhas, te são ausentes, ocultos.
Quem te lesou as janelas
Que mais que singelas
Fontes seriam de eterno carinho
Luz espalhada, um lar, um abrigo,
Jardim de encontro, os meus olhos nos teus?

Poente

Pôr-do-sol, Monet, 1883

Poente
Alberto A. Maia

Antes que o dia caia e se ponha o sol
Deixando no horizonte a vermelhidão do poente
Encerrando movimentos, desfazendo formas
Quero viver cada momento, cada instante fugaz,
Cada minuto repente,
Como se o vislumbre da última curva da estrada
Me desse conta da fragilidade das minhas conquistas,
Leves como bolhas de sabão
Cujas faces espectrais de beleza multicolorida
Dissolvem no ar.

.

Mas, se tão breve é esta vida, frágil como orvalho
Devo vivê-la tão intensa
Quanto intenso é este desejo latente
Grito sem voz, dor incontida
Sonhos que brotam na aridez e nas pedras

.

Como galhos em correnteza arrastados
Como folhas ao vento levados
Vai-se sem rumo nesse dia-após-dia
Curtindo ausências, vivendo apatia
Caminho vazio quando a vida é vazia.

.

Importa nascer de novo
Romper cadeias, prisões assimiladas
Quebrar o encantamento das palavras
Idéias digeridas, somatizadas
Valores deformados, separação
Feitiço que cerra olhos e alma
Distância... Saudade... Solidão.

.
Antes que o dia caia e se ponha o Sol
Neste fim de tarde...
Quero ver a luz dos teus olhos, te abraçar
Viver tão perto a presença distante
Que o meu coração mesmo diante
De um simples carinho e pequena alegria
Não sinta a falta, seja completo... seja poesia.

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